DESAFIOS ENFRENTADOS PELOS INDÍGENAS

Fonte imagem: https://reporternordeste.com.br/indios-da-paraiba-tem-2a-
menor-renda-do-nordeste/







Próximo de uma aldeia, na região do Semiárido, converso com proprietária de uma loja de artesanato localizada no centro da cidadezinha, que diz não ter artesanato indígena para venda, pois eles não fazem mais as peças, dando a conotação de que seriam todos, preguiçosos.


Há quem nunca tenha visto um indígena e repita por aí o jargão “todo índio é preguiçoso”. O indigena além enfrentar os desafios de lutar para manter suas tradições, ainda luta contra o preconceito. Ouvir sobre a preguiça do indigena me incomodava, e uma das razoes, é que uma de minhas bisavós, era indígena Potiguara. Dizem que no dia do seu casamento, procuraram a noiva, e a acharam debaixo da mesa comendo um pedaço de carne (sem fazer uso de talheres), e que seu vestido de noiva estava “sujo de gordura”).


Em conversas com indígenas na Amazônia, interior do Rio Grande do Sul e Pernambuco, entendi que cada grupo vive imerso em contextos muito diferentes, são todos indígenas? Sim, mas, imagina o cotidiano de sujeitos de uma aldeia retirados das ilhas do São Francisco, vivendo agora ás margens do rio Moxotó, que fica seco na maior parte do ano. 
Então antes de utilizar argumentos rasos e generalistas é bom observar que a preguiça é inerente à cor, etnia e classe socialOs “Brancos” não tem preguiça? Sim, e muitos sofrem até de preguiça seletiva.

Ora, se a função social de um indivíduo na tribo, é caçar ou pescar, após  cumprir sua função social, se deita em uma esteira a vai descansar, bater papo ou desfrutar da convivência com outros da tribo.  
O que há de errado nisso? Talvez seja sua forma de comunicar que não é “sua prioridade acumular capital”, embora nos dias de hoje, muitos duvidem disso. 

Há quem recrimine indivíduos pertencentes à grupos indígenas alegando que aceitam o “escambo moderno” (trocam metais preciosos, madeira por aparelhos eletrônicos, relógios, carros, Etc). O "branco" que chega até a aldeia com tais objetos, é o que? herói? 
Há  centenas de grupos que mantém seus costumes, sobrevivem da caça, da pesca, da coleta de frutos, venda de artesanato e do plantio de mandioca. Chamo isso de trabalho, muitos “brancos” não estariam dispostos a produzir peças, e caminhar horas com pesadas cestas nas costas para ir até as cidades vender.

Comprar o artesanato indígena? Compramos? Muitas vezes, não, achamos mais cômodo “dar uma moeda” para quem está vendendo peças nas calçadas das grandes e médias cidades. 

Ser indígena é antes de tudo ser resistente e resiliente para sobreviver em meio ao preconceito. Que nossas mentes se abram para conhecer os povos indígenas e talvez fazer um processo de escuta para entender a história de cada povo, e respeitar suas individualidades. Ainda que não concordemos com algum traço cultural, isso não nos impede de respeitar a escolha de cada um, seja ele, indígena ou não.

Por Joana D ´arc Henzel - Assistente social e fundadora da OSC Pão é Vida.


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