Por Reinaldo Azevedo do Blog do Reinaldo Azevedo
Lembram-se das arruaças ocorridas em Londres e em outras
cidades da Inglaterra em 2011? Escrevi alguns textos a respeito sem sair do meu
escritório. Pra quê? Há certos lugares a que só se chega nas asas da lógica e
de alguma bibliografia. Abaixo, vai um trecho de um post que escrevi no dia 12
de agosto e que sintetiza a minha opinião sobre aqueles eventos. Leiam. Volto
depois para explicar por que faço essa sugestão.
A canalha é igual em toda parte: em Paris, Londres, São
Paulo, Rio… A esta altura, já está mais do que claro o que se deu na
Inglaterra. Não há crise econômica que justifique o que se viu lá. Havia gente
de todo tipo nos saques: ricos, classe média e, claro!, muitos
estado-dependentes, que vivem da “generosidade” do sistema. Sem precisar lutar
para ter uma moradia – o estado fornece – ou o bastante para se alimentar, o
vagabundo sai metendo fogo no que encontra pela frente. Não foi diferente em
2005, em Paris. Os “jovens rebeldes” da periferia, que enchiam certos
intelectuais de excitação revolucionária, tinham e têm casa, comida e roupa
lavada doadas pelo estado.(…)
Os “estado-dependentes” – gente sustentada pelo estado,
brutalizada pela assistência social – sempre exercem papel importante nesses
distúrbios. Alimente um desocupado, dê-lhe moradia, escola e financie seu
vício, e ele fatalmente escarrará na boca que o beija. A violência só tomou
aquela proporção em Londres, circunstancialmente, porque o estado demorou para
reagir – faltaram Locke como teoria e Hobbes como prática. A razão de fundo, no
entanto, é outra: o estado bonzinho não dá a esses caras outra alternativa à
medida que lhes tira a obrigação e o direito de lutar pelo próprio sustento. Só
lhes resta apedrejar a mão que os afaga. Corte-se-lhes a papinha, e veremos
como se amansa.
Voltei
Muito bem! A VEJA desta semana publica uma excelente
entrevista com o filósofo inglês Roger Scruton, feita por Gabriela Carelli.
Leiam um trecho.
O filósofo inglês Roger Scruton, de 67 anos, é presença
constante nos debates realizados em seu país quando é preciso ter na mesa um
pensador independente e corajoso. Autor de 42 livros de ensaios, Scruton é uma
pedra no sapato da ideologia politicamente correta que predomina bovinamente na
Europa. Multiculturalismo? Um desastre. A arte moderna? Detestável, e por aí
vai o filósofo, que lecionou nas universidades de Oxford, na Inglaterra, e
Boston, nos Estados Unidos, e atraiu para si o cognome de “defensor do
indefensável”. Um dos fundadores do Conservative Action Group, que ajudou a
eleger a primeira-ministra Margaret Thatcher. Scruton publicou recentemente um
novo livro, “As Vantagens do Pessimismo”, ainda sem previsão de lançamento no
Brasil.
VEJA – Um bom número de intelectuais ingleses interpretou a
onda de vandalismo em Londres e arredores como atos de jovens niilistas sem
maiores repercussões. O senhor concorda?
Scruton - Acho essa explicação muito simplista. Muitos
desses desordeiros são realmente niilistas, que não acreditam em nada e não se
identificam com nenhuma instituição, crença ou tradição capaz de fazer
florescer em cada um deles o senso de responsabilidade e o respeito pelo
próximo. Alguns não têm emprego. Mas, na maior parte dos casos, eles agiram por
uma escolha deliberada. Desemprego e niilismo sempre existiram. Ninguém
mencionou como uma das causas da baderna a deformação causada nesses jovens
pelas políticas do estado do bem-estar social. Diversos estudos mostram com
clareza a vinculação desses programas assistencialistas com a proliferação de
uma classe baixa ressentida, raivosa e dependente. Não quero ser leviano e
culpar apenas as políticas socialistas pelos tumultos. As pessoas promovem
arruaças por inúmeras razões. Entre os jovens, a revolta é uma condição
inerente, um padrão de comportamento. Mas é preciso um pouco mais de honestidade
intelectual para buscar uma resposta mais concreta sobre o que ocorreu em
Londres. Por debaixo do verniz civilizatório, todo homem tem dentro de si um
animal à espreita. Infelizmente, se esse verniz for arrancado, o animal vai
mostrar a sua cara. A promessa de concessão de direitos sem a obrigatoriedade
de deveres e de recompensas sem méritos foi o que arrancou o verniz nessa
recente eclosão de episódios de vandalismo na Inglaterra.
Scruton - Sou cético em relação à ideia de que os protestos
que eclodiram em diversos pontos do mundo têm a ver com exclusão, com o suposto
aumento no número de pobres ou com concentração de renda. Os baderneiros de
Londres são, pelos padrões do século XVIII, ricos. Desculpe-me, mas é resultado
de exclusão depredar uma cidade porque você tem só um carro, um apartamento
pequeno pelo qual não pagar aluguel, recebe mesada do governo sem ter de fazer nada
para embolsá-la, compra três cervejas, mas gostaria de beber quatro, e acha que
ter apenas um televisor em casa é pouco? Não. Ver exclusão nesses episódios só
faz sentido na cabeça de um professor de sociologia. É um absurdo também
comparar os tumultos de Londres com os eventos no Oriente Médio. Os jovens do
Egito exigiam algo do governo. Os jovens ingleses não dão a mínima para o
governo ou para as instituições. (…)
Leia a íntegra da entrevista na edição impressa da revista.
Vale a pena.
Por Reinaldo Azevedo do Blog do Reinaldo Azevedo - 18/09/2011 às 6:43
Comentários
Postar um comentário
DEIXE SUA MENSAGEM AQUI