O MISSIONÁRIO

No Brasil, é comum um missionário (a) ser tratado como alguém menos importante, que um pastor local, mesmo que o missionário tenha o mesmo preparo teológico; e muitas vezes até uma graduação secular, o que que não é sempre exigida para que alguém seja consagrado ao pastorado, estranho, não é?.

Parece pairar uma miopia que impede a valorização do missionário, que deixa seu lugar de origem, família, e por vezes, abre mão até de uma carreira, para viver e servir a Deus a ao próximo, em diferentes contextos culturais.

Costumo dizer que Deus me fez missionária por vocação, embora seja cabeleireira e assistente social por formação. Sou artesã por paixão e  uso minhas profissões e dons, à serviço do Reino de Deus.
Vivo há 7 anos na zona rural de Inajá, localizada no sertão de Pernambuco. É um local de difícil acesso que fica distante mais de 300 KM da capital, Recife.

Quando sou convidada para ministrar em conferências ou congressos, geralmente pagam minhas despesas com o deslocamento e alimentação, o que considero básico. Tenho dificuldade com estrelismo gospel, com os excessos... contudo, tratar com dignidade o missionário, é no mínimo um dever.

Há lugares aonde ministrei, e não recebi oferta alguma para as despesas, ainda assim voltaria, se fosse convidada. Por compreender que o Senhor tem cuidado de mim e que a minha missão é servir aonde Deus me levar. 

Penso que se alguém acha que o trabalho que desenvolvo é digno de receber uma contribuição, ótimo. Se não se sente compelido apoiar, isso não será uma barreira, não nos impede de conviver e partilhar ideias.

Depois de 12 anos vivendo de tempo integral,  voltei a vender confecções, não porque Deus não seja fiel, Ele é, tem cuidado do meu sustento, mas o fiz pela necessidade de manter iniciativas sociais que custam dinheiro e que creio serem importantes para o desenvolvimento da comunidades. Se houvesse quem pagasse pelos gastos dessas ações, minha vida seria mais leve, mas se não tem e quero fazer, não me acovardo, trabalho mesmo.

O assunto sobre quem dever prover as despesas de vocacionados, já deu muito pano para manga em livros e artigos, e até a
 revista ultimato já publicou um artigo muito interessante denominado: Missionário: maluco, mártir, mendigo ou o quê?
Disponível em: http://www.ultimato.com.br/…/missionario-maluco-martir-mend…

Na minha concepção, tratar um missionário como mendigo, é fruto de uma visão mesquinha e retrógrada que precisa ser superada! No Brasil, a maioria dos missionários não saem para o campo com sustento garantido, isso ocorre por motivos bem diversos, dentre eles a omissão.  

Sabe o que acho incrível? Se você conversar com missionários genuinamente cristãos, que vivem em diferentes continentes, vai perceber que Deus cuida de cada um deles, e o faz de modo extraordinário! Seja usando pessoas, suas profissões, ou a instrumentalidade  de cada um para gerar renda; é Deus quem os mantém no campo, sem nunca os desamparar.

Se um pessoa doa algum valor, é porque abre mão do dinheiro por uma razão, uma convicção, logo não  é mais dono: não faz sentido vigiar o missionário. Há quem doe algo monetário uma vez na vida, mas se o missionário 3 anos depois postar um momento de lazer ou marcar na rede social que está em um restaurante, a pessoa olha e julga: humm, tá gastando o meu dinheiro!

For fim, muitos inclusive cristãos perdem a oportunidade de ouvir histórias incríveis, e saber mais sobre a vivência missionária, por achar, que vai perder tempo ou por medo de que ao fazer contato com o missionário, (a) será importunado com algum pedido de recursos.


Todos nós partilhamos um mundo estranhamente multifacetado, não é o mundo ideal, é o mundo que construímos com nossas atitudes. Aqui há fragmentos de nossas vidas, um mosaico de vivências e experiências, que agradáveis ou não, forjaram quem somos.

Quando saímos de Pelotas no Rio Grande do Sul, tínhamos um planejamento e uma palavra de que Deus viria adiante de nós. Abrimos mão de um projeto de expansão que estava em curso nas duas empresas que possuíamos. Deixamos interrogações na cabeça de alguns e alguns convictos de que em menos de 1 ano estaríamos de volta no Rio Grande.

Já havíamos comprado um casa móvel, seguimos viagem Foram 3 anos morando em um velho Motor Home, rodando pequenos municípios, depois sítios e povoados do sertão e agreste de vários estados nordestinos. Nesse período, ministramos capacitações, plantamos igrejas, auxiliamos líderes de instituições eclesiásticas, realizamos mutirões de ação social em associações e escolas ...

Era comum permanecer por meses em comunidades vulneráveis, ou com baixo índice de cristãos, nosso foco sempre foi fazer o bem, e ver vidas transformadas. Foi em meio a esse contexto que sofremos 1 assalto e 2 arrombamentos em nosso Motor Home, não foi fácil... Não romantizo eventos trágicos; foram momentos tensos nos quais lembramos das palavras de alerta que ouvimos antes de sair do extremo Sul, rumo ao Nordeste. Sabíamos que viver é correr risco, e não tem como achar que o mar da vida é isento de tempestade.

Em diversos momentos poderíamos ter desanimado, perdido o foco, contudo, prosseguimos com a convicção e olhos postos na missão. Carregamos ainda hoje a certeza de que a missão que nos foi concedida é dádiva, e não um peso. 

Houveram também momentos de reconhecimento pela trajetória de vida e pelo trabalho social realizado. Participação em programas de TV, ser matéria nas páginas revistas e jornais,  trouxe visibilidade, mas não somos deslumbrados, não menosprezo a importância das reportagens, contudo, nossa maior alegria  é saber que nossos nomes foram escritos no livro da vida.


Após 17 anos de jornada, continuamos firmes, vendo Deus fazer milagres, vivemos com dignidade em um lugar inóspito. Um chão onde a vicinal não passa dois carros lado a lado, de tão estreita que é. O caminho é estreito e viver aqui é imersão cultural,  é viver sem  facilidades das cidade. Somos conscientes de que este é um lugar cheio de oportunidades  para semear. Alguns dos solos, como na parábola do semeador ainda são pedregosos, outros  espinhosos, mas há também solo fértil, onde a maravilhosa semente, germina e dá frutos.

O seu coração pode não bater pelos mesmos ideais que o nosso,  pode sim continuar valorizando as coisas que eu considera essencial, poia cada ser é único,  carrega e defende o que acredita. Existe algo que nós cristãos devemos considerar, Deus existe, e deixou a missão de semear valores eternos nos corações humanos. O IDE deve ser a prioridade nº 1 na vida de cada um de nós, e a igreja só pode carregar essa nomenclatura, se obedecer a ordem imperativa do Mestre, Jesus. (Mateus 28; 19,20)

Jesus deixou claro que a seara era realmente grande, e poucos os ceifeiros... Meditar em textos sobre ao assunto, pode curar a miopia da alma, e nos fazer compreender que missão, é missão! Cada um de nós que recebeu o folego de vida,  tem a oportunidade de descobrir qual é a sua vocação, e ajudar cumprir a missão de alcançar vidas.
             

 Por Joana D´arc Henzel 



E lhes recomendou: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da plantação que mande obreiros para fazerem a colheita. (Lucas 10:2).

Gosto de recomendar as igrejas e pastores, o livro A missão de enviar, que pode ajudar amolecer as escamas do olhos ao explanar o papel da igreja quanto aos vocacionados.

   A paz seja com todos. Filipenses: 4.7. 



Comentários